Quantcast
Channel: Bola Presa | RSS Feed
Viewing all articles
Browse latest Browse all 6

Os patinhos feios do Oeste: Denver Nuggets

$
0
0

O jornalista mais admirado por este blog nos EUA, o Zach Lowe, definiu assim os Playoffs da Conferência Oeste: é como passar por três chefões de video game em sequência. E pior, se você se classifica sem mando de quadra, tem que fazer isso com apenas metade da sua barra de energia. A coisa não tá fácil daqueles lados, amigos.

A temporada começou agora mesmo, a maioria dos times jogou apenas 5 partidas, mas saca só como está o velho oeste: 9 times estão mais vitórias do que derrotas, os únicos 3 invictos (Grizzlies, Rockets e Warriors) são do Oeste, 2 times têm 50% de aproveitamento e apenas 4 perderam mais do que ganharam. No Leste são 7 com mais fracassos do que conquistas.

Ao longo da temporada é provável que as coisas mudem, e até por jogarem muitas vezes entre si obrigatoriamente alguns times do Oeste vão acabar embalando sequências de derrotas. Mas no momento está difícil olhar para a conferência e ver quem vai cair. Os times com mais derrotas que vitórias são o Utah Jazz, que fez muitos bons jogos até agora e ontem derrotou o Cleveland Cavaliers; o Oklahoma City Thunder, que está jogando com os reservas dos reservas; e os dois únicos times da conferência que estão jogando realmente mal, o Los Angeles Lakers e o Denver Nuggets. E como admirador do fracasso e da tristeza, depois de um post sobre o Thunder, claro que é desses dois que vou falar aqui, começando pelo Nuggets.

DEN4

O Denver Nuggets decepciona porque a expectativa sobre eles era até que grande. Depois de uma excelente temporada há 2 anos, quando George Karl ainda era o técnico, tudo foi por água abaixo naquela derrota na primeira rodada dos Playoffs para o Golden State Warriors. Ao invés de culpar uma inesperada derrota em casa ou Steph Curry, que estava tomado pelo demônio naquela série, resolveram assumir que o treinador realmente não sabia vencer na pós-temporada. Karl foi embora, Brian Shaw chegou e, para complicar as coisas, o time ficou desfalcado. Andre Iguodala deixou o time como Free Agent, Danilo Gallinari e JaValle McGee perderam o último ano com lesões sérias.

Os resultados ruins do ano passado, portanto, não surpreenderam tanto. Desfalcados, com técnico novo e até briga dentro do elenco, com a saída forçada de Andre Miller, não tinha como dar muito certo. Mas nesse ano as coisas pareciam se encaixar de novo, com a volta dos lesionados, a troca por Arron Afflalo, que fez temporada brilhante no Orlando Magic no último ano, e a maior rodagem de Shaw no comando. Para fechar o otimismo, Kenneth Faried foi um dos melhores jogadores (para alguns, o melhor) da seleção norte-americana na última Copa do Mundo. Bastava voltar a botar velocidade como doidos e correr para o abraço!

Correndo eles estão, somente o Golden State Warriors produz mais posses de bola por jogo que o Nuggets nesse começo de temporada, mas é só isso que está acontecendo. Com o 17º melhor ataque e a 18ª melhor defesa, o Nuggets está devidamente equilibrado entre os times ruins desse começo de ano! Ao contrário do que acontecia sob a tutela de George Karl, a velocidade imposta pelo time não resulta em contra-ataques efetivos e fáceis finalizados por Ty Lawson e Faried, e velocidade sem fazer cesta só serve para ceder contra-ataques de volta para o oponente.

A história de Brian Shaw no mundo dos técnicos é curiosa. Ele foi membro da comissão técnica do Los Angeles Lakers entre 2005 e 2011, ganhando importância especialmente na passagem de Phil Jackson pela franquia, quando o time foi bi-campeão em 2009 e 2010. Depois ele foi ser um dos principais assistentes de Frank Vogel no Indiana Pacers entre 2011 e 2013, quando se tornou o assistente mais procurado de toda a NBA. Era praxe, bastava abrir uma vaga de técnico principal em qualquer time para que Shaw fosse um dos primeiros entrevistados. Não sei se ele respondia a coisa errada quando perguntavam “como você se vê daqui a 5 anos?” ou “se você fosse um animal, qual seria?”, mas o fato é que sempre acabavam contratando outra pessoa. A zica só acabou quando o Nuggets decidiu por ele no lugar de George Karl, um dos caras mais admirados dentro da franquia de Denver nos últimos anos.

O meu julgamento é que Shaw tem um problema grave de adaptação com o Denver Nuggets, que por sua vez tem um problema de aceitação com o novo treinador. O técnico chegou no time depois de quase uma década de experiência em times que tinham elenco e estilo de jogo bastante diferentes. O Lakers que se formou entre 2005 e 2011 buscou a volta do triângulo ofensivo, sistema de leitura de jogo, decisões rápidas, entendimento da defesa adversária, muitos passes e jogo no garrafão. Em toda jogada ao menos um jogador, mas geralmente mais, faz o papel de pivô nas jogadas. Depois, em Indiana, Shaw participou da formação de uma das defesas mais poderosas da NBA. Se formos eleger as defesas mais marcantes dos últimos anos da NBA temos que pensar na defesa de pick-and-roll do Chicago Bulls, na defesa de perímetro e turnovers forçados do Memphis Grizzlies, a pressão e as blitze do Miami Heat e a proteção do garrafão do Indiana Pacers. A maneira como eles, sabendo usar Roy Hibbert, faziam todos baterem no paredão era exemplar.

E com essa bagagem ele chega no Denver Nuggets. Entre os triângulos e passes do Los Angeles Lakers e o jogo de meia quadra e defesa feroz do Indiana Pacers, o que ele poderia passar para o novo time? O elenco do time do Colorado havia sido cuidadosamente montado para agradar o que George Karl acreditava ser o ideal, a correria e os contra-ataques. É por isso que eles usam o baixo Faried, o explosivo McGee e Ty Lawson, possivelmente o jogador mais rápido da NBA. Já deu para entender como as coisas não casam, não deu?

DEN3

O problema é que ninguém está com coragem de ir lá e pedir o divórcio. Se Brian Shaw quer impôr um estilo ao qual está mais familiarizado, precisa mudar os quintetos que usa, forçar trocas para conseguir diferentes jogadores ou, o mais difícil, fazer os jogadores comprarem seus princípios. Às vezes é o que parece que ele tenta ao usar Timofey Mozgov no time titular e pedir para que a bola passe mais vezes pelo pivô, mas o jogador é limitado e quando não dá certo todo mundo parece voltar ao KarlBall. Isso quer dizer que o time também não superou ainda a saída de Karl, parece que os jogadores não queriam mudança, ou mesmo que a direção do time o demitiu mais por querer mostrar serviço e cobrança do que por realmente não acreditar em seu trabalho. Um mudança estranha aconteceu assim no Memphis Grizzlies ,quando não renovaram com Lionel Hollins mesmo após a melhor temporada da história da franquia, mas pelo menos em seu lugar assumiu Dave Joerger, que já era assistente do time. Foi mais fácil manter a identidade da equipe.

O Nuggets, hoje, parece um cara que ainda pensa na ex-namorada, age como se estivesse com a ex-namorada, mas que começou a namorar uma nova menina bonita só para mostrar para os outros que tava tudo bem. Não dá certo para ninguém. O time joga mal, não tem mais a identidade que tinha e ninguém confia em ninguém. Na partida desta quarta, o Sacramento Kings, a melhor surpresa do Oeste nesse começo de temporada, simplesmente destruiu com o time de Denver! Destruiu em todas as áreas do jogo, foi humilhante. Nenhum pivô conseguiu segurar DeMarcus Cousins, a defesa não sabia como fazer a bola não chegar no pivô e, quando tentavam correr, faziam bobagem e deixavam o contra-ataque nas mãos de Darren Collison e Ben McLemore, que fizeram boa partida.

Ou até o fim do ano o Denver Nuggets decide trocar de técnico e chamar alguém que atenda as expectativas de estilo de jogo do elenco, ou Brian Shaw mostra pulso e muda o time para o que ele realmente acredita, entende e, mais importante, sabe ensinar. Vamos ver o que acontece primeiro. Até lá, porém, os outros times vão disparando na frente.

Minnesota Timberwolves v Denver NuggetsAmanhã tem texto novo, dessa vez comentando o péssimo início de campanha do Los Angeles Lakers.

 

Defenestrado por

Denis


Viewing all articles
Browse latest Browse all 6